sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Teatro: a arte da vida

Entrevista concedida para Fabiana Matsuda

Matéria publicada na edição de 25 de setembro de 2010 para o Jornal da Cidade, Atibaia - SP

Teatro é a arte de unir diversos sentimentos, fantasias, sonhos, realidades. Cada representação para o ator é estar diante de um novo personagem, de um novo público, de uma nova situação. Para os espectadores, segundo Carlos Drummond de Andrade, “ir ao teatro é como ir à vida sem nos comprometer".

“Trabalhar com a arte, seja em qual vertente for, é um privilégio do qual não se pode passar imune. O teatro é capaz de realizar mudanças na vida das pessoas, tanto daqueles que o produzem, como para quem assiste. A participação é ativa de todos os lados, do intérprete e de seu público, todos atuam”, afirma o ator Rafael Carvalho, que iniciou sua vida no teatro aos seis anos com o Grupo Estar Feliz, que combinava música, dança e muita poesia, coordenado pela professora Ísis Gonçalves.

“Acredito que somente pelas vindas da adolescência fui compreender que tinha vocação para atuar no teatro. As experiências na Biblioteca Municipal de Atibaia e a oficina de teatro com Arthur Leopoldo e Silva me fizeram ligar o clique que não apagou nunca mais. Esse aprendizado inicial foi muito importante para chegar ao campo profissional que estou hoje, sem as vivências que tive e os mestres que passaram por minha vida, talvez não seria essa pessoa tão empenhada no meu trabalho como sou e quero sempre ser”, afirma o ator.
Os pais do ator sempre o incentivaram, apoiaram e apóiam em todos os momentos. “Lembro de meu pai em algumas apresentações cheio de lágrimas nos olhos dizendo que tinha orgulho de minha escolha”, relembra.

Carvalho se formou em duas habilitações de Artes Cênicas, a Licenciatura e o Bacharelado em Direção Teatral na Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais. Sempre faz cursos, não só relacionados ao teatro, mas também de artes visuais, música, literatura. “O ator precisa se atualizar, conhecer práticas, entender como funciona o seu corpo, como se dá a relação em contato com pessoas novas, que oferecem situações possíveis para a criação”, conta.

“Recentemente passei por uma experiência incrível com a dramaturgia, na qual pude fazer parte da primeira turma do Núcleo de Dramaturgia do Sesi-SP, British Council. Além de outros aprendizados na área de direção e produção cultural”, acrescenta o ator.

Rafael Carvalho destaca dois espetáculos do qual participou: O Teatro de Sombras de Ofélia, no qual aprendeu muito sobre o exercício de humildade e humanidade necessários para conviver em grupo e conquistar novos rumos; e Meu Corpo Noite Adentro, no qual fez o papel de uma travesti contando sobre sua vida cheia de alegria, violência, prostituição e desejos. “Esse monólogo me ensinou muito sobre a vida das pessoas, que às vezes achamos ser diferente de nós, mas na verdade, não passam de espelhos de nosso cotidiano, infelizmente ainda com muito preconceito”, afirma.

Atualmente, Carvalho ministra aulas de teatro em um colégio particular em Piracaia. Divide com Nivaldo Todaro e Leila Garcia, a direção do espetáculo A Balada do Flautista, projeto realizado em Atibaia.

Em São Paulo, faz parte do Grupo do Pulo, formado por integrantes da primeira turma do Núcleo de Dramaturgia do Sesi, que trabalha mensalmente com peças curtas, focadas em determinado momento do país. “Na última semana o tema foi eleições e eu procurei ser o mais fiel possível ao incorporar o candidato a Presidência da República, José Serra, que está em segundo lugar nas pesquisas. Foi uma apresentação incrível. O nome deste projeto é De Versão em Versão e acontece todo terceiro sábado do mês na Saraiva MegaStore do Shopping Morumbi”, conta Carvalho.

Segundo o ator, a maior dificuldade está na preguiça e na falta de coragem. “Para trabalhar nessa área não dá pra ficar sentado na frente da televisão tentando aprender com a novela das oito. Precisa ler muitas peças, assistir filmes, ir a exposições, escrever, conversar com as pessoas, conhecer os limites do próprio corpo, saber o que acontece no mundo, enfim, é preciso nutrir-se o tempo todo e deixar fluir. Porém, não dá para pensar que só com isso é possível ser ator ou atriz, precisa ter predisposição e o mínimo de dedicação”, ressalta Carvalho.

Quando questionado sobre a situação do teatro em Atibaia, Rafael Carvalho acredita que apesar de ter bons profissionais, cheios de vontade de trabalhar e fazer história, falta incentivo e políticas de apoio que estendam as atividades para outros pólos da cidade. “Assim, sem querer, acaba-se perdendo novos artistas potenciais, que poderiam ser representantes do cenário teatral atibaiense em muitos festivais de teatro. Sempre me perguntam onde fazer, como fazer, quem procurar. Eu digo, procure os órgãos públicos responsáveis pela cultura e cobre uma ação que seja positiva para o povo, que seja contínua e verdadeira. Não as iniciativas festivas, que duram apenas algumas semanas antes de grandes eventos da cidade, mas as que se mantêm na memória do povo, pois assim se faz história. Assim é que se realiza um pensamento positivo a respeito da arte e da valorização da cultura”, afirma Carvalho.

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