*escrito aproximadamente na 2ª quinzena de junho/2011
As abóboras voltaram. Pensei em deixá-las agora que fundei um novo espaço de criação em http://parafraseandoaficcao.blogspot.com/, mas é praticamente impossível deixar essa minha outra voz calar, a voz que quer criticar, denunciar ou apenas reclamar. Este blog foi pensado inicialmente para sugerir receitas de padrão artístico-cultural, mas, como arte exige desconforto e risco, agora o trocando_abóboras quer incomodar um pouco mais, tudo em busca de uma evolução da escrita. Para inaugurar esse novo tempo surgem os novos tópicos de identificação de postagens: ACEITO; NÃO ACEITO; ASSISTA e NÃO ASSISTA. O significado de cada uma delas será explorado em cada postagem (semanal, mensal ou anual, rs) com indicações e/ou críticas de eventos culturais ou situações de nosso feliz cotidiano político e social.
NÃO ACEITO/NÃO ASSISTA
Desde que comecei a morar definitivamente em São Paulo, disse a muitos amigos que andava assistindo a espetáculos e filmes incríveis. De fato, Deus foi generoso naqueles dias, porém, existem as trevas para nos lembrar que nem só de 5 estrelinhas vive o homem, ta aí a carinha infeliz pra provar isso. Nesta semana tive um exemplo de como NÃO fazer um espetáculo. Excesso de direção pode fazer mal ao ator, sobretudo quando são muitos atores em cena e a impressão que o espectador tem é a de que nenhum deles foi observado verdadeiramente durante o processo de criação. Um equívoco de encenação que vinha por todos os lados, pela boca dos atores, que desconhecem a respiração diafragmática e ignoram a combinação voz e corpo como instrumento favorável para uma arte do ator; pelos figurinos carregados e desnecessários da protagonista, que a cada momento surgia com uma nova versão de si mesma, em busca de um destaque que não viria; pela falta de cuidado ao falar as palavras do texto que pareciam querer ser livradas rapidamente, como se fosse um grande incômodo que atrapalharia sua interpretação. Era claro o desejo de alguns atores de se colocar à frente do personagem.
Uma figura bastante particular é a protagonista, impagável como a Santa Joana Santa D’Arc, a infinidade de texto que a atriz profere é digna de aplausos, claro, porque decorar aquilo tudo é praticamente uma promessa. No meio das 2h e 10 min de espetáculo, senti que a sua voz começava a dar indícios de que sumiria de vez. Por fim, certo cansaço se manifestou e assim, novamente fui invadido por um desinteresse enorme pelo que assistia.
Difícil apreciar um trabalho quando ele não é apresentado com uma verdade. Meses atrás assisti uma palestra incrível com o griot Hassane Kouyaté, filho de Sotigui Kouyatè, grande mestre e ator do Odin Theatre de Peter Brook. Ele falou um pouco sobre a verdade das 3 verdades que todo mundo já ouviu falar: “Existe a minha verdade, a sua verdade e A VERDADE.” É lindo isso para se pensar em arte. Mas é difícil. É difícil fazer teatro. É difícil escrever para teatro. É difícil ter que ver e ouvir e aceitar calado... isso porque sou um espectador bastante respeitoso. A minha opinião é a de quem se sentiu desconfortavelmente indeciso se saia pra fumar ou curtir uma baladinha retrô, porque ali, definitivamente não queria estar. O que sobra? Bom, a coragem em montar um clássico de Schiller, do qual infelizmente ainda conheço pouco, mas considero a coragem, pois a exposição pode sofrer conseqüências inesperadas. O clássico que estou colocando em questão é “Joana D’Arc” que está em cartaz no Teatro Bibi Ferreira, em São Paulo, até... bom, sei lá, se você leitor se interessar, vá. E depois, faça seu comentário favorável ou desfavorável à esse rabisco crítico.
Assistir à peça "Joana D'arc", em cartaz no Bibi Ferreira é uma verdadeira penitência. Principalmente pelos fortes problemas de dicção da protagonista.
ResponderExcluirNadya Milano