sábado, 30 de outubro de 2010

A IMITAÇÃO DA ARTE

Postagem escrita para o blog www.grupodopulo.blogspot.com

Nas duas últimas edições do De Versão em Versão, o Grupo do Pulo trouxe a público dois debates entre os principais candidatos à presidência e não por acaso, alguns dos temas discutidos ou idéias exploradas na encenação foram praticamente copiadas pela realidade. Vamos a elas:

1º) A Rede Cegonha!
A candidata petista chamada em nosso espetáculo como “Candidata Nº 1” lança o projeto Bolsa Cegonha com o intuito de levar muita gente no bico. Era incrível sua descrição, NA PEÇA, sobre como pretendia cuidar das mães e das crianças:
“E a saúde é uma questão fundamental no nosso país. Para melhorar a saúde nós temos que começar a cuidar das crianças, desde a gestação da mãe, passando pelo parto até chegarmos à criança propriamente dita. É um longo período. Digo, é um período de 9 meses. Mas, se pegarmos todas as mulheres do Brasil, são vários períodos de 9 meses. Por isso digo que é um período longo.”
Fato é que pela imitação da arte, ou obviedade da vida a “Rede” Cegonha está lá, como uma das variadas primeiras questões “fundamentais” do plano de governo da candidata petista!

2º) A Bolinha de Papel!
Pra quem esteve no último De Versão em Versão, verificou uma grande novidade, que foi a abertura da participação do público no espetáculo. Foram distribuídas em cada cadeira da platéia, bolinhas de papel para que fossem jogadas aleatoriamente em qualquer um dos candidatos ali representados. Fato é que por acaso, a Candidata Nº 1 levou uma enxurrada de bolinhas e o Candidato Nº 2, representado por este que vos fala, também ganhou algumas bolinhas, ou diria boladas? Fato é que uma delas acertou diretamente o meu olho, mas só depois usei isso como muleta para a criação. A vítima tucana se manifestava pela primeira vez!
A vida imitou a arte. E assim nosso tucaninho favorito se “machucou” bem no meio da calva, ganhando um aspecto meio Gorbachev de ser.

Repare, o lado da Candidata Nº 1 tem mais bolinhas!

3º) As 2 Professoras!
Podia me prolongar ainda mais e trazer mais pérolas que a Candidata Nº 1 e o Candidato Nº 2 proferiram nesta campanha limpa, esclarecedora e feliz que tivemos, mas prefiro registrar na memória o que foi marcante para minha criação como ator, como diretor e como eleitor desta comédia.
No último dos debates (que aconteceu ontem, 29/10/10) o Candidato Tucaninho Gorbachev ao ser questionado sobre o tema Educação, cita uma pérola já explorada pelo Grupo do Pulo na edição de setembro quando fala da presença de mais uma professora na sala de aula para melhorar os índices de alfabetização. Ontem, ele disse: “Nós colocamos 2 professoras em cada sala de aula, quer dizer, uma professora e uma estudante de pegadogia.”
Na De Versão do Grupo do Pulo o Candidato Nº 2 dizia: “Eu coloquei uma professora e uma estudante completamente despreparada ganhando uma mísera bolsa de estudos.”

Candidato Nº 2 articula suas idéias. 

E assim a vida imita a arte. Ou ainda, estamos tão cheio de obviedades neste campo de “discussão” e “engrandecimento” político que muitos dos discursos de nossos incríveis candidatos já poderiam ser mais do que previsíveis.

Neste domingo, 31 de outubro de 2010, o Brasil conta com o SEU voto! Pela democratização na hora de dividir a pizza, não em 8 pedaços apenas, mas em quase 190 milhões. Será que dá?

Um grande abraço!

Candidato Nº 2*

*Rafael Carvalho, Ator e Diretor das últimas edições do De Versão em Versão

domingo, 24 de outubro de 2010

Teatro Para Alguém apresenta '1,26' minipeça de Zen Salles

Quando o Zen Salles me convidou pela 3ª ou 4ª vez para participar da montagem de uma peça sua, pensei comigo, não posso mais dizer não. É engraçado, mas o que ganhou não foi nem o convite do Zen, mas o convite da peça '1,26' que é contemporânea por sua temática e pela linguagem de temporada que o Teatro Para Alguém realiza.
Pra quem não conhece, vale muito a pena passar pelo site www.teatroparaalguem.com.br e conferir trabalhos de qualidade desta nova maneira de se fazer teatro. Em 2009 tive a oportunidade de participar como dramaturgo com a peça "Algo a Dizer" e diretor em "Minhas Roupas" e "Quem é?", também disponíveis no site.

Voltando a '1,26' não posso deixar de colocar o prazer que foi trabalhar - mesmo que por tempo limitado - com o diretor Lucianno Maza (leia-se www.cadernoteatral.com.br),  o ator Rui Xavier e a atriz Bárbara Bruno, que foi nossa adorável mãe. A imagem que o Zen e o Maza criaram nessa peça permitiu um jogo onde é possível explorar a teatralidade num território totalmente novo, que é o digital, o "inter-nético", do qual a cada dia nos tornamos mais escravos e dependentes.
Se o Teatro Para Alguém faz parte da maneira nova de se fazer/ver Teatro, que seja sempre  bem vindo! Sejamos então dependentes deste novo Teatro também, será enriquecedor, tenho certeza. Mas sempre é importante considerar que este formato é uma parte dessa ramificação  de trabalho e pesquisa nas artes cênicas, uma possibilidade de criação. Espaços temos aos milhares para serem ocupados, temos aí a prova de um teatro que cada vez mais foge dos espaços convencionais e assume o lugar onde as pessoas vivem, no caso do TPA, em casa, no trabalho, numa lan house, nas ruas, ou em qualquer outro lugar que essa onda digital nos permita habitar.

Sem mais delongas assista '1,26', minipeça de Zen Salles*:



*Zen Salles está no Teatro do Mezanino do Sesi -SP com a peça "POROROCA", realizada durante o Núcleo de Dramaturgia Sesi/Britsh Council. A peça que está rendendo boas críticas e excelente recepção do público fica em cartaz até dezembro com sessões gratuitas.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Teatro: a arte da vida

Entrevista concedida para Fabiana Matsuda

Matéria publicada na edição de 25 de setembro de 2010 para o Jornal da Cidade, Atibaia - SP

Teatro é a arte de unir diversos sentimentos, fantasias, sonhos, realidades. Cada representação para o ator é estar diante de um novo personagem, de um novo público, de uma nova situação. Para os espectadores, segundo Carlos Drummond de Andrade, “ir ao teatro é como ir à vida sem nos comprometer".

“Trabalhar com a arte, seja em qual vertente for, é um privilégio do qual não se pode passar imune. O teatro é capaz de realizar mudanças na vida das pessoas, tanto daqueles que o produzem, como para quem assiste. A participação é ativa de todos os lados, do intérprete e de seu público, todos atuam”, afirma o ator Rafael Carvalho, que iniciou sua vida no teatro aos seis anos com o Grupo Estar Feliz, que combinava música, dança e muita poesia, coordenado pela professora Ísis Gonçalves.

“Acredito que somente pelas vindas da adolescência fui compreender que tinha vocação para atuar no teatro. As experiências na Biblioteca Municipal de Atibaia e a oficina de teatro com Arthur Leopoldo e Silva me fizeram ligar o clique que não apagou nunca mais. Esse aprendizado inicial foi muito importante para chegar ao campo profissional que estou hoje, sem as vivências que tive e os mestres que passaram por minha vida, talvez não seria essa pessoa tão empenhada no meu trabalho como sou e quero sempre ser”, afirma o ator.
Os pais do ator sempre o incentivaram, apoiaram e apóiam em todos os momentos. “Lembro de meu pai em algumas apresentações cheio de lágrimas nos olhos dizendo que tinha orgulho de minha escolha”, relembra.

Carvalho se formou em duas habilitações de Artes Cênicas, a Licenciatura e o Bacharelado em Direção Teatral na Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais. Sempre faz cursos, não só relacionados ao teatro, mas também de artes visuais, música, literatura. “O ator precisa se atualizar, conhecer práticas, entender como funciona o seu corpo, como se dá a relação em contato com pessoas novas, que oferecem situações possíveis para a criação”, conta.

“Recentemente passei por uma experiência incrível com a dramaturgia, na qual pude fazer parte da primeira turma do Núcleo de Dramaturgia do Sesi-SP, British Council. Além de outros aprendizados na área de direção e produção cultural”, acrescenta o ator.

Rafael Carvalho destaca dois espetáculos do qual participou: O Teatro de Sombras de Ofélia, no qual aprendeu muito sobre o exercício de humildade e humanidade necessários para conviver em grupo e conquistar novos rumos; e Meu Corpo Noite Adentro, no qual fez o papel de uma travesti contando sobre sua vida cheia de alegria, violência, prostituição e desejos. “Esse monólogo me ensinou muito sobre a vida das pessoas, que às vezes achamos ser diferente de nós, mas na verdade, não passam de espelhos de nosso cotidiano, infelizmente ainda com muito preconceito”, afirma.

Atualmente, Carvalho ministra aulas de teatro em um colégio particular em Piracaia. Divide com Nivaldo Todaro e Leila Garcia, a direção do espetáculo A Balada do Flautista, projeto realizado em Atibaia.

Em São Paulo, faz parte do Grupo do Pulo, formado por integrantes da primeira turma do Núcleo de Dramaturgia do Sesi, que trabalha mensalmente com peças curtas, focadas em determinado momento do país. “Na última semana o tema foi eleições e eu procurei ser o mais fiel possível ao incorporar o candidato a Presidência da República, José Serra, que está em segundo lugar nas pesquisas. Foi uma apresentação incrível. O nome deste projeto é De Versão em Versão e acontece todo terceiro sábado do mês na Saraiva MegaStore do Shopping Morumbi”, conta Carvalho.

Segundo o ator, a maior dificuldade está na preguiça e na falta de coragem. “Para trabalhar nessa área não dá pra ficar sentado na frente da televisão tentando aprender com a novela das oito. Precisa ler muitas peças, assistir filmes, ir a exposições, escrever, conversar com as pessoas, conhecer os limites do próprio corpo, saber o que acontece no mundo, enfim, é preciso nutrir-se o tempo todo e deixar fluir. Porém, não dá para pensar que só com isso é possível ser ator ou atriz, precisa ter predisposição e o mínimo de dedicação”, ressalta Carvalho.

Quando questionado sobre a situação do teatro em Atibaia, Rafael Carvalho acredita que apesar de ter bons profissionais, cheios de vontade de trabalhar e fazer história, falta incentivo e políticas de apoio que estendam as atividades para outros pólos da cidade. “Assim, sem querer, acaba-se perdendo novos artistas potenciais, que poderiam ser representantes do cenário teatral atibaiense em muitos festivais de teatro. Sempre me perguntam onde fazer, como fazer, quem procurar. Eu digo, procure os órgãos públicos responsáveis pela cultura e cobre uma ação que seja positiva para o povo, que seja contínua e verdadeira. Não as iniciativas festivas, que duram apenas algumas semanas antes de grandes eventos da cidade, mas as que se mantêm na memória do povo, pois assim se faz história. Assim é que se realiza um pensamento positivo a respeito da arte e da valorização da cultura”, afirma Carvalho.

Oração para São Natalício – Edição nº 11 (Para ler consigo e ecoar)

Vista aérea do Museu Nacional após o incêndio, em setembro/2018.  Crédito Buda Mendes (Getty Images) Que sem palavras possamos reconhe...