domingo, 26 de setembro de 2010

num rompante de romance sem par

Ontem, à noitinha já, disse a uma amiga:
“Vou parar de ficar procurando em mim o que só você pode enxergar”
E sem querer me veio um ar de romance do qual há tempos não me deixo tocar
Tento me lembrar da beleza do estar embebido de amor
De não saber por que as horas demoram tanto a se passar
Quando temos alguém para chegar ao encontro
De sentir aquele sentido que desperta a alma, que revigora a vida
De esquecer do que somos para enfim se entregar
Definitivamente se deixar exposto
E possivelmente, impossível de mudança
Essa sensação que só vemos no outro e que só o outro nos vê
Temos a retina para refletir, isso é o máximo pra nós.

                                                                            Gilbert Garcin

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cachimbo Noir

Dias Gigantescos (1928), de René Magritte


O pintor belga surrealista René Magritte foi, em parte, grande inspirador para a confecção de minha nova peça que ganhou o nome de sua obra onde vemos um cachimbo pintado e o concreto lembrete de que o que se vê não é o que parece ser. Surgiu assim "Ceci n'est pas une pipe ou Este não é um cachimbo" onde o personagem Homem decide mudar seu sexo e deixar de ser o Homem para passar a ser a Mulher. É uma peça sobre a escolha de uma nova vida. É uma peça inscrita/escrita com bases fortes nas pinturas de Magritte, sobretudo nas obras Dias Gigantescos (1928), A traição das imagens (1929) e Golconda (1953).
Aos poucos, através do mergulho, plano eu confesso, pelo surrealismo, criei uma peça que dialoga com as Artes Visuais e procura por essa contemporaneidade fracionada que vivemos.
A peça foi iniciada no curso de dramaturgia com Roberto Alvim, no espaço Club Noir em São Paulom que no último dia 8 de setembro ganhou vida pelo Ciclo de Leituras coordenado pela atriz Juliana Galdino (ex-CPT e recentemente Macaco em "Comunicação a uma Academia").

Foto de Leituras 2010/Club Noir - 08/09/10

Sobre a Leitura: observar/ouvir/sentir o texto sendo lido/encenado expandiu meu campo de percepção à respeito de alguns personagens e me permitiu, acima de tudo, me ouvir ali, me ver ali, ser cúmplice de quem teve palavra, mesmo sendo dono delas e ao mesmo tempo não sendo mais. Está escrito. Está para o mundo.
Ainda sobre a Leitura: Boa. Alguns atores decepcionaram minha escuta. Um deles me fez chorar. De raiva. Poucos, confesso. Porém, outros me apresentaram uma abordagem nova desta passagem, que passou a ser melancóóólica até, bonita, nova. Vi um texto que talvez não queira que seja a versão final, quero outro, com pouca diferença, mas de fato, não este cachimbo. Outro.

A traição das imagens (1929), de René Magritte


Trecho da peça "Ceci n'est pas une pipe ou Este não é um cachimbo" de Rafael Carvalho:


Mulher Sozinha - O Homem acabou de deixar a sala de consulta. Ele está de costas para a platéia, em frente à porta branca. A consulta acabou de passar e não podia deixar que sua decisão se estendesse por muito tempo mais. Ele olha para o lado e vê um banco. Sentado permanece ali pensando. Olha para os três homens sentados um ao lado do outro. Olha para o casal. Ele olha para mim. Sinto seu silêncio. O Homem decidiu mudar seu sexo. Ele disse sim e agora vai deixar de ser O Homem e passará a ser A Mulher. Fisicamente, ele será A Mulher. Maquiagicamente ele será A Mulher. Remanufaturado. Mas ali sentado, sua percepção expande e começa a ver outros Homens, outras Mulheres, outras Crianças, outros Outros, outras Formas de vida das quais pode se multiplicar. Agora ele é apenas O Homem, mas não será somente um. Não mais. Com a decisão tomada, muitas vidas exigirão seu espaço de existência dentro deste corpo. Começa assim...

Oração para São Natalício – Edição nº 11 (Para ler consigo e ecoar)

Vista aérea do Museu Nacional após o incêndio, em setembro/2018.  Crédito Buda Mendes (Getty Images) Que sem palavras possamos reconhe...